Este manual foi concebido para auxiliar na compreensão a respeito de uma importante etapa no tratamento oncológico: a Radioterapia.
Discutiremos várias questões relacionadas ao tratamento radioterápico, tais como aspectos técnicos, esquemas de tratamento, benefícios, efeitos colaterais e orientações quanto ao manejo dos mesmos.
Nosso objetivo é proporcionar o melhor tratamento possível, com suporte total ao paciente, para que esta etapa de seu tratamento seja superada da melhor maneira possível.
A radioterapia é o uso de radiação ionizante para realizar um tratamento médico. Pode ser utilizada no manejo de tumores malignos, levando à morte das células tumorais e inibindo o crescimento tumoral, bem como de condições benignas, como na prevenção de cicatrizes hipertróficas ou quelóides e no tratamento de tumores de natureza benigna.
Assim como as células tumorais sofrem efeitos da radiação, também as células sadias também apresentam alterações relacionadas ao tratamento, porém com uma capacidade maior de regeneração se regenerar das mesmas. Estes efeitos nas células sadias são responsáveis pela toxicidade do tratamento.
O tratamento radioterápico moderno, ao qual você será submetido no CTR, utiliza meios de aumentar a dose de radiação nas células tumorais e diminuir a dose de radiação recebida nos tecidos sadios, aumentando a chance de controle tumoral e diminuindo a taxa de efeitos colaterais associados ao tratamento.
No CTR você será submetido a um tipo de radioterapia chamado de Radioterapia Externa ou Teleterapia. Esta consiste no emprego de uma equipamento chamado Acelerador Linear, que produz feixes de Raios-X ou elétrons de alta energia. A fonte emissora de radiação não entra em contato com o paciente, daí o nome teleterapia.
O tratamento é realizado geralmente de maneira fracionada, isto é, a dose total de radiação é dividida em várias doses diárias. Isto é necessário para que os tecidos sadios expostos à radiação tenham tempo de se recuperar entre uma sessão e outra, sem prejudicar o efeito nas células tumorais.
Cada sessão de radioterapia dura em média de 10 a 15 minutos. Não são realizadas sessões aos sábados e domingos, também para que os tecidos sadios tenham um período maior por semana para se regenerar. Cabe lembrar que, apesar desta pausa semanal programada, outras interrupções do tratamento devem ser evitadas, para que o efeito benéfico do tratamento seja máximo.
No CTR, o paciente tem um horário agendado para seu fixo de tratamento, portanto, na maioria dos casos este poderá manter suas atividades habituais, dirigindo-se à clínica diariamente apenas no horário estabelecido. 0
Existem várias modalidades diferentes de tratamento radioterápico. No CTR, realizamos Radioterapia Conformacional 3D(3D-CRT), Radioterapia por Intensidade Modulada(IMRT), Radioterapia por Intensidade Modulada em Arco(VMAT) e Eletronterapia.
3.1 – Radioterapia Conformacional 3D(3D-CRT)
Consiste no uso de imagens tridimensionais adquiridas através da realização de tomografias computadorizadas e transferidas ao computador de planejamento para criar uma imagem tridimensional do tumor, possibilitando que múltiplos feixes de radiação de intensidade uniforme possam ser conformados para o ao contorno do volumeda área a ser irradiado.
3.2 – Radioterapia por Intensidade Modulada(IMRT)
É outra modalidade de radioterapia com maior conformação que a 3D-CRT, portanto, conformacional altamente precisa, que permite de maneira muito eficaz a administração de altas doses de radiação no volume-alvo, minimizando a dose nos tecidos sadios adjacentes. A dose de radiação é projetada para conformar a forma tridimensional do tumor pala modulação ou controle da intensidade dos subcomponentes de cada feixe de radiação. Portanto, consegue-se altas doses de radiação no tumor e baixas doses nos tecidos normais. Desta forma os efeitos colaterais a curto e longo prazo são reduzidos, com melhora na tolerância e eficácia do tratamento. Para esta modalidade, há a necessidade de dispositivos, acessórios e softwares especiais acoplados ao Acelerador Linear, os quais o CTR pode oferecer.
3.3 – Radioterapia por Intensidade Modulada em Arco Volumétrico (VMAT)
Consiste no uso da IMRT aplicada em arcos que circundam a região de tratamento campos no formato de arcos, com maior eficácia na conformação da dose em torno do volume-alvo, poupando significativamente os órgãos normais adjacentes em um tratamento extremamente rápido, considerando cada sessão. Reduzir o tempo de tratamento significa proporcionar mais conforto ao paciente e diminuir a possibilidade de movimentação durante a sessão de tratamento, levando a maior precisão do mesmo.
3.4 – Eletronterapia
Consiste no uso de elétrons para realizar o tratamento radioterápico. O tratamento com elétrons é mais superficial, sendo indicado para os tumores de pele, lesões muito próximas à superfície da pele e prevenção de cicatrizes hipertróficas e queloides.
Para que o tratamento radioterápico seja realizado de maneira precisa e com o máximo de qualidade, são seguidas várias etapas para garantir o melhor tratamento possível. São elas:
4.1 – Consulta Médica Inicial
Na primeira consulta no CTR, o paciente será avaliado pela equipe médica, que juntamente com a equipe de origem do paciente (oncologista, cirurgião, etc), determinará o esquema de tratamento indicado para cada caso. Nesta ocasião será realizado um histórico da doença, além de aspectos importantes no manejo do tratamento. Nesta ocasião Também será determinada a modalidade de radioterapia com melhor indicação indicado e o tipo de simulação a ser realizada.
4.2 – Simulação do tratamento
Após a avaliação médica e indicação do tratamento, passamos para a etapa seguinte, que consiste na simulação do tratamento. Esta pode ser realizada de maneira convencional, com utilização de Raios-X para determinação dos campos de tratamento, ou no caso das técnicas 3D (conformacional, IMRT e VMAT)a utilização da conformacional, com a utilizaçãode Tomografia Computadorizada para localização dos volumes tumorais a serem tratados e dos órgãos sadios próximos a eles. quando indicadas.
4.3 – Planejamento
Após a realização da simulação(convencional ou conformacional), as regiões a serem irradiadas são determinadas pelo médico, que também determina as doses de radiação a serem realizadas tanto no tumor quanto nos tecidos sadios. Neste processo, é utilizado um ambiente virtual através de softwares chamados de sistemas de planejamento. A seguir, o físico médico responsável pelo caso realiza o planejamento do mesmo, escolhendo o melhor ajuste do aparelho para que sejam respeitadas as doses prescritas nos órgãos sadios e nos volumes tumorais.
Esta etapa requer muita precisão e experiência, para que o tratamento realizado no Acelerador Linear seja realmente o melhor possível para cada caso. A equipe do CTR preza pela excelência em seus tratamentos, realizando-os de maneira precisa e no menor tempo hábil, considerando-se a complexidade e a individualidade de cada caso individualmente.
4.4 – Tratamento
Após o planejamento, o tratamento é aprovado pelo médico e físico responsáveis pelo caso, passando-se para a etapa seguinte – o tratamento. A cada dia o paciente é colocado em sua posição deposicionado para o tratamento pela equipe de técnicos de radioterapia, buscando sempre manter a mesma posição realizada na simulação. Isto ajuda a Este processo é essencial para garantir que os volumes irradiados sejam os mesmos que os propostos na fase de planejamento.
Na primeira sessão de tratamento e periodicamente após esta, é realizada uma checagem do posicionamento do paciente, através da aquisição de imagens digitais obtidas diretamente no Acelerador Linearrealização de uma radiografia – chamada portal-filme,adicionando mais um mecanismo de auxílio na garantiaIsto também ajuda a garantirda precisão do tratamento.
Caso seja necessário, pode ser realizado um replanejamento durante o período de tratamento, em casos em que a equipe médica e física considere importante modificar o planejamento proposto inicialmente. Isto deve ser sempre discutido com o radio-oncologista responsável pelo caso, para que as dúvidas a respeito desta conduta sejam solucionadas.
4.5 – Alta
Após o término do tratamento, o médico radio-oncologista realizará uma avaliação do paciente e o reencaminhará ao serviço de origem, para que o seguimento do tratamento oncológico seja realizado.
Os efeitos colaterais da Radioterapia estão diretamente relacionados com a área do corpo tratada, a dose administrada e a capacidade das células saudáveis de reparar o dano. Como esses efeitos são acumulativos, espera-se o início das reações a partir da segunda semana de tratamento. Nesta fase começa a se instalar um processo inflamatório e, dependendo da estrutura envolvida, teremos os efeitos colaterais específicos.
A seguir, faremos uma breve explicação dos efeitos colaterais mais comuns associados ao tratamento. Cabe lembrar que sempre que houver algum efeito colateral durante o tratamento, este deve ser comunicado à equipe médica e de enfermagem, para orientação adequada a cada caso e seu tratamento.
5.1 – Fadiga
Fadiga ou cansaço é um efeito colateral comum, geralmente estando associado ao tratamento oncológico como um todo. No caso da Radioterapia, é comum seu aparecimento nos tratamentos de crânio e naqueles que envolvem uma área grande a ser irradiada. A anemia presente em grande parte dos pacientes contribui para a fadiga, podendo em alguns casos ser indicada a transfusão sanguínea para seu controle.
Caso apresente fadiga durante seu tratamento, procure evitar atividades físicas desgastantes, mas mantenha uma atividade física leve, de acordo com sua tolerância. Isto ajuda a manter uma boa capacidade cardiorrespiratória, aliviando os sintomas de cansaço.
5.2 – Náuseas e vômitos
Podem acontecer quando o abdome ou o crânio é irradiado. Geralmente estão associados ao período de tratamento radioterápico, acontecendo sua regressão após o término do mesmo. Sempre deve ser comunicado à equipe médica para avaliação adequada do caso.
Evitar refeições volumosas e com grande teor de gordura, alimentar-se a cada 3 horas e manter posição ereta após cada refeição são medidas que ajudam a prevenir o aparecimento das náuseas e vômitos. Existem medicações que podem auxiliar no seu tratamento, devendo sempre serem utilizadas com a prescrição médica adequada.
5.3 – Inflamações da pele(dermatite)
Podem acontecer em qualquer região do corpo exposta à radiação. Variam desde vermelhidão local até feridas(úlceras) na pele irradiada. A pele pode ficar descamativa, com ardência local, coceira e dor nos casos mais graves. Geralmente o caso se resolve dentro de 2 semanas após o término do tratamento, não deixando sequelas permanentes.
Durante o período de tratamento radioterápico, evitar a exposição à luz solar, manter a pele bem hidratada, evitar barbear-se ou depilar-se e não realizar o tratamento com a pele úmida são medidas que auxiliam na prevenção da dermatite associada ao tratamento.
Uso de roupas apertadas e perfumes e loções nas áreas tratadas não é indicado durante o tratamento, podendo piorar o quadro de inflamação.
Assim que iniciarem os primeiros sinais de irritação na pele da região irradiada, deve ser comunicado à equipe médica e de enfermagem, para prescrição das medicações indicadas a cada caso. Geralmente o tratamento se faz com uso de pomadas e cremes locais, não sendo necessária a interrupção do tratamento.
5.4 – Dificuldades na deglutição
Estão associadas ao tratamento da região do crânio, pescoço e tórax. Podem se manifestar como dor à deglutição dos alimentos e dificuldade em degluti-los.
Procure manter uma alimentação saudável e adequada durante o tratamento radioterápico. Evitar alimentos ácidos e bebidas alcoólicas podem auxiliar na prevenção do quadro. O cigarro deve ser evitado tanto para prevenção dos efeitos colaterais quanto para melhor resultado do tratamento. Um acompanhamento com Nutricionista sempre é indicado quando da presença de dificuldade em se alimentar adequadamente. Se mesmo com a dieta adequada as dificuldades de deglutição persistirem, levando à perda de peso, medicações poderão ser utilizadas para o alívio do quadro e nos casos mais graves pode se indicar a dieta através de sonda nasoenteral.
5.5 – Perda de cabelo
É um efeito colateral comum nos pacientes que realizam radioterapia na região da cabeça e pescoço, surgindo geralmente após 2 a 3 semanas de tratamento. Este efeito costuma ser reversível na maioria dos casos, voltando a haver crescimento do cabelo após o término do tratamento.
5.6 – Alterações nas taxas sanguíneas
A radioterapia pode diminuir temporariamente as taxas sanguíneas normais de células produzidas pela medula óssea. Geralmente ocorre se a área irradiada é grande, ou nos tratamentos de pelve.
O quadro costuma ser temporário, porém durante o tratamento pode ser indicada transfusão sanguínea em alguns casos. É importante sempre observar se você vai apresentar febre ou sangramentos durante seu tratamento, pois pode ser indicada a realização de exames de sangue para avaliação hematológica e prescrição de antibióticos precocemente em alguns casos.
5.7 – Alterações urinárias
A radioterapia na região pélvica pode causar irritação e inflamação da bexiga. Os sintomas mais comuns são aumento da frequência urinária, urgência miccional, necessidade de urinar durante a noite, ardência urinária, sangue na urina e incontinência urinária. Geralmente os sintomas são leves, e podem ser prevenidos com a hidratação adequada e com uso de medicações para alívio dos mesmos.
A utilização de bebidas ácidas, que contenham cafeína ou alcoólicas deve ser evitada durante o tratamento radioterápico, visando minimizar a chance de ocorrência destes efeitos colaterais. O uso do cigarro também deve ser evitado, pois pode aumentar a chance de ocorrência destes sintomas.
5.8 – Alterações intestinais
Podem acontecer nos casos em que há irradiação do abdome ou da pelve. Manifestam-se como diarreia ou constipação intestinal, cólicas abdominais, excesso de gases ou necessidade urgente de evacuar. Menos comumente pode haver sangramento intestinal ou incontinência fecal.
Sempre deve ser comunicado à equipe médica e de enfermagem para orientação adequada a cada caso. Existem medicações que podem ser utilizadas para controle dos sintomas, com boa eficácia. Procure manter-se bem hidratado, com ingesta abundante de líquidos durante seu período de tratamento.
5.9 – Fertilidade
A maioria dos tratamentos radioterápicos não influencia a capacidade tanto do homem quanto da mulher de terem filhos. Exceção se faz aos tratamentos de pelve nas mulheres e na irradiação de testículos nos homens.
Se você pretende manter sua fertilidade após a radioterapia, converse com a equipe médica antes do início da radioterapia a respeito das opções para o caso.
5.10 – Sexualidade
A radioterapia pode interferir no interesse sexual, principalmente se você tiver outros efeitos colaterais, como fadiga, náuseas, incontinência ou se você estiver ansioso quanto sua condição clínica ou tratamento. É importante você respeitar o tempo necessário para que você se ajuste à situação em que se encontra, não existindo cobrança excessiva de sua própria parte nem do seu parceiro. Acompanhamento psicológico especializado pode ser indicado em alguns casos e não deve haver receio em procurar tal atendimento caso se faça necessário.
Após o término do tratamento, é comum se sentir nervoso com a primeira relação sexual, porém é perfeitamente segura sua realização. O uso de lubrificantes vaginais pode ajudar a mulher a se sentir mais confortável, podendo ser utilizados sem restrição.
Caso haja algum efeito colateral sexual mais importante, este deve ser discutido com seu médico, para que as dúvidas sejam esclarecidas e as opções de tratamento para cada caso sejam oferecidas.
5.11 – Efeitos colaterais a longo prazo
Todos os tratamentos oncológicos podem provocar efeitos colaterais a longo prazo. Como mencionamos, as técnicas atuais de radioterapia visam limitar o risco de efeitos colaterais permanentes.
Antes de iniciar seu tratamento, o médico radio-oncologista discutirá com você a respeito da possibilidade de efeitos colaterais a longo prazo. É importante que você tenha a oportunidade de falar sobre esses efeitos, mesmo que a chance de acontecer com você sejam pequenas.
Após o término da Radioterapia, o radio-oncologista fará uma avaliação para ajudá-lo a lidar com algum sintoma residual da radioterapia. Será entregue a você um relatório do tratamento realizado, e também ao seu oncologista e/ou cirurgião.
A partir de então, você realizará seguimento com exames de rotina e acompanhamento periódico com seu oncologista e/ou cirurgião. Os exames são realizados de maneira periódica para monitorar os resultados do tratamento, e caso haja necessidade, podem ser indicados novamente cirurgia, quimioterapia ou a radioterapia.
Geralmente o seguimento é realizado durante vários anos, porém com menor frequência com o passar do tempo.